Daniel Cruzeta

Altas Habilidades / Superdotação

A superdotação e as altas habilidades despertam grande interesse e curiosidade. Aqui você vai obter uma visão inicial sobre o assunto. Abordaremos as teorias mais aceitas, os métodos de avaliação, os problemas mais comuns enfrentados pelos superdotados e, ao final, daremos algumas dicas práticas de como lidar com essas dificuldades.

Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD) são os termos utilizados para descrever aqueles indivíduos que demonstram desempenho excepcional em uma ou mais áreas do conhecimento ou expressam habilidades muito acima da média. As áreas de destaque são variadas e incluem as capacidades intelectuais, criativas, artísticas, de liderança, ou até mesmo habilidades específicas em campos acadêmicos.

Teorias Mais Aceitas

Modelo dos Três Anéis (MTA)

Criada pelo psicólogo educacional norte-americano Joseph Renzulli, esta teoria sugere que a superdotação resulta da interação entre três elementos: habilidades acima da média, alto nível de comprometimento com a tarefa e alto nível de criatividade. No primeiro anel temos as capacidades gerais e específicas, sendo aquelas as que podem ser utilizadas em vários domínios, como memória e fluência verbal, e estas as aptidões para realização de atividades especializadas, tais como dança, matemática ou relacionamento interpessoal. O segundo anel compreende um certo tipo de motivação e de esforço aplicado à resolução de questões específicas ou desempenho específico em determinada atividade. Por fim, a criatividade, de conceituação um pouco mais difícil e menos consensual, abrange fluência, originalidade e flexibilidade de pensamento, abertura a novas experiências, uso de analogias e talento para crianção de projetos originais.

Modelo de Desenvolvimento da Dotação e do Talentos (MDT) de Gagné

Françoys Gagné, psicólogo canadense, propôs este modelo que distingue entre “dotes” e “talentos” . Dotação seria a posse de uma notável capacidade natural (aptidão) em pelo menos um domínio da capacidade humana. Talento, por sua vez, representaria desempenho superior sistematicamente aprendido (competência), resultando em níveis de realização acima da média. Em ambos os casos, Gagné propõe que o indivíduo esteja entre no mínimo os 10% melhores de seus pares. Os dotes podem ou não se transformar em talentos. Os dotes e talentos, conjugados no processo de desenvolvimento, são mediados por catalisadores intrapessoais, ambientais e por outras variáveis que não podem ser controladas.

Teoria das Inteligências Múltiplas

O psicólogo norte-americano Howard Gardner propôs esta teoria, ao assumir que o cérebro possui áreas diferentes de funcionamento, as quais compõem inteligências independentes. Identificou inicialmente sete diferentes tipos de inteligência: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal, intrapessoal. Estudos posteriores o levaram a incluir mais dois tipos: existencial e natural. Ao expandir o conceito de inteligência, deu novo status àquelas inteligências que não são tradicionalmente valorizadas pelas escolas e pelos departamentos de RH. Isso faz parte de uma das revoluções na compreensão da inteligência, antes restrita a mensurações de QI e Fator g, por exemplo, oriundas da psicometria típica da psicologia dos séculos XIX e do início do século XX. A compreensão atual das altas habilidades e da superdotação permitem uma avaliação mais global do indivíduo.

Teoria da Desintegração Positiva (TDP)

O psicólogo polonês Kazimierz Dabrowski descreve cinco níveis de desenvolvimento da personalidade. Contrariando a psicologia convencional, sugere que a angústia, a ansiedade e a tensão psicológica são necessárias para a evolução do indivíduo. As crises existenciais e a desintegração que elas causam – porque a estrutura da personalidade existente se desfaz – seriam positivas, pois levam ao desenvolvimento e crescimento do indivíduo. Os cinco níveis são chamados de integração primária, desintegração uninível, desintegração espontânea multinível, desintegração organizada multinível e integração secundária. Outra contribuição deste autor é a conceituação de superexcitabilidade, que se trata de uma experiência fisiológica intensificada, e identificou cinco espécies: intelectual, criativa (imaginativa), sócio-afetiva (emocional), psicomotora e sensorial.

Métodos de Avaliação

Testes de QI: Os testes de Quociente de Inteligência são usados para identificar superdotação intelectual. Avaliam habilidades como raciocínio lógico, memória e compreensão verbal. Os mais comuns são WISC (Escala de Inteligência Wechsler para Crianças) e Stanford-Binet.

Avaliações de Desempenho: Para identificar talentos específicos, são observadas as realizações acadêmicas, artísticas e esportivas. Outros indicadores de desempenho utilizados por este método incluem a identificação de portfólios, prêmios e reconhecimento em competições.

Observações e Relatórios: Insights valiosos sobre o comportamento e as habilidades que possam indicar superdotação são obtidos por meio de relatórios produzidos por professores, pais e especialistas que atendem o indivíduo. Observações em sala de aula, por exemplo, e em outros contextos sociais também são úteis.

Entrevistas e Questionários: Para incrementar a compreensão das habilidades, interesses e motivações de um indivíduo, são utilizados ainda questionários padronizados, bem como são conduzidas entrevistas com o próprio, com seus pais e seus professores.

Problemas Comuns Enfrentados por Pessoas Superdotadas

Entender e apoiar pessoas com AH/SD é fundamental para promover seu pleno desenvolvimento e bem-estar.

Desafios Sociais: Encontram dificuldades ao se relacionar com seus pares devido a diferenças de interesses e níveis de maturidade. Como consequência, podem se sentir isoladas ou incompreendidas.

Tédio Acadêmico: A falta de desafios adequados às competências do superdotado levam com frequência ao sentimento de tédio no ambiente educacional. Desmotivação e baixo desempenho acadêmico podem ser observados como resultado.

Perfeccionismo: Muito comum entre os superdotados, é fonte de problemas como ansiedade, medo de falhar e procrastinação.

Sobrecarga de Expectativas: A aparente necessidade de obter sempre um desempenho excepcional pode levar ao estresse e ao esgotamento, como consequência, alguns superdotados sofrem com pressão excessiva de pais, professores e até de si mesmos.

Como Lidar com as Dificuldades

Se você é um indivíduo com AH/SD ou conhece alguém que já foi identificado como tal, observe as dicas a seguir:

1) Promoção de Habilidades Sociais:

Participe de grupos de interesse comum (clubes, associações e atividades extracurriculares, hobbies).

Aprenda habilidades de comunicação e resolução de conflitos.

2) Enriquecimento Acadêmico: 

Participe de programas de enriquecimento e aceleração acadêmica.

Invista em aprendizado autodirigido e projetos independentes.

3) Gerenciamento do Perfeccionismo:

Aprenda estratégias de enfrentamento e técnicas de relaxamento.

Desenvolva mentalidade de crescimento, onde erros são vistos como oportunidades de aprendizado.

4) Equilíbrio entre Expectativas e Bem-Estar:

Defina metas realistas e alcançáveis.

Desfrute de atividades de lazer e use o tempo livre para relaxamento e diversão.

Conclusão

Descobrir mais sobre si mesmo e sua condição conduz a um autoconhecimento mais profundo, trazendo maior bem-estar. Afinal, a normalização das experiências incomuns e a desmistificação de muitos aspectos ligados à superdotação podem reduzir muito os sentimentos negativos e ajudar a criar uma nova percepção de si. É normal que pessoas com altas habilidades enfrentem desafios únicos. O aprendizado de estratégias e de técnicas para lidar com questões específicas da superdotação (sobre-excitabilidades, perfeccionismo, tédio, entre outras) traz um ganho enorme de qualidade de vida.