Daniel Cruzeta

Sobre-excitabilidades: o que são, quais tipos existem e como lidar com elas

As pessoas com superdotação apresentam características únicas que vão além da inteligência acima da média. Entre elas, estão as chamadas sobre-excitabilidades, que se manifestam como intensidades maiores em áreas específicas do desenvolvimento humano. Entender esses aspectos é fundamental para apoiar indivíduos com altas habilidades, seja no ambiente familiar, escolar ou social.

O que são sobre-excitabilidades?

O conceito de sobre-excitabilidades foi desenvolvido pelo psicólogo Kazimierz Dabrowski dentro da Teoria da Desintegração Positiva. Ele descreveu como pessoas superdotadas tendem a experimentar o mundo de forma mais intensa, seja física, emocional, intelectual, imaginativa ou sensorialmente.

Essas intensidades não são “problemas”, mas sim características que podem ser fonte de grande potencial, embora também tragam desafios quando não compreendidas.

Tipos de sobre-excitabilidades

Existem cinco tipos principais de sobre-excitabilidades, cada um com características próprias:

1. Intelectual
  • Pensamento crítico aguçado

  • Busca incessante por conhecimento

  • Tendência a questionar regras e autoridades

2. Imaginativa
  • Riqueza de ideias e criatividade

  • Criação de mundos imaginários

  • Forte inclinação para artes, escrita ou invenções

3. Psicomotora
  • Alta energia física

  • Necessidade constante de movimento

  • Dificuldade em permanecer parado por longos períodos

4. Emocional
  • Sentimentos intensos e profundos

  • Forte empatia com os outros

  • Vulnerabilidade a críticas e frustrações

5. Sensorial
  • Sensibilidade aguçada a sons, cheiros, luzes e texturas

  • Prazer estético em música, arte ou natureza

  • Desconforto em ambientes muito estimulantes

 

Como lidar com sobre-excitabilidades

Embora sejam características positivas, as sobre-excitabilidades podem gerar desafios se não forem compreendidas. Veja algumas formas práticas de lidar com elas:

  • Intelectual: incentive o acesso a leituras avançadas, debates e projetos desafiadores.

  • Imaginativa: forneça espaços para expressão criativa, como artes, escrita ou atividades de invenção.

  • Psicomotora: promova atividades físicas regulares e permita pausas de movimento durante estudos ou reuniões.

  • Emocional: pratique a escuta ativa e ensine técnicas de autorregulação emocional.

  • Sensorial: crie ambientes acolhedores, evitando estímulos excessivos e respeitando preferências sensoriais.

Ao compreender cada tipo de sobre-excitabilidade, pais, educadores e profissionais podem transformar essas intensidades em potenciais de desenvolvimento e realização pessoal.

Importância do reconhecimento

Muitas vezes, as sobre-excitabilidades são confundidas com diagnósticos equivocados, como TDAH ou transtornos emocionais. Reconhecer que se trata de uma característica ligada à superdotação é essencial para evitar rótulos indevidos e oferecer o suporte adequado.

 

Além disso, compreender essas intensidades ajuda no fortalecimento da autoestima da pessoa superdotada, permitindo que ela enxergue seus traços como forças e diferenciais.

Perguntas Frequentes sobre Sobre-excitabilidades

1) Se uma sobre-excitabilidade causa problemas, seja no âmbito pessoal, social ou laboral, o que se pode fazer para amenizar seu impacto e gerenciar a sua intensidade?

É possível gerenciar as sobre-excitabilidades sem anulá-las. O primeiro passo é reconhecer que elas fazem parte da superdotação e não são defeitos. Em seguida, adotar estratégias práticas ajuda a equilibrar sua intensidade:

  • Psicomotora: pratique exercícios físicos regulares e inclua pausas ativas no dia a dia.

  • Emocional: use técnicas de respiração, mindfulness e terapia de regulação emocional.

  • Intelectual: estabeleça prioridades e limite a sobrecarga de informações.

  • Imaginativa: canalize ideias em projetos criativos com prazos e metas realistas.

  • Sensorial: crie ambientes de baixo estímulo e respeite seus limites.

Em casos de impacto significativo, buscar apoio de psicólogos especializados em altas habilidades é altamente recomendado.

 

2) Quais as origens neurobiológicas das sobre-excitabilidades?

As sobre-excitabilidades têm base neurobiológica. Estudos mostram que pessoas com superdotação apresentam:

  • Maior atividade cerebral em áreas associadas à percepção, emoção e raciocínio.

  • Conexões neuronais mais densas, o que favorece rapidez no processamento de informações.

  • Maior responsividade do sistema nervoso autônomo, resultando em reações intensas a estímulos internos e externos.

Essas diferenças explicam por que os superdotados vivenciam o mundo de maneira mais intensa e sensível, em comparação à média da população.

 

3) Como poderia identificar essas sobre-excitabilidades no meu cotidiano?

Aqui estão exemplos reais e cotidianos para ilustrar cada tipo:

Intelectual
  1. Questionar professores sobre regras da escola.

  2. Passar horas pesquisando sobre um tema específico.

  3. Corrigir imprecisões em falas de colegas.

  4. Argumentar em debates com profundidade.

  5. Interromper uma atividade para investigar “por que” algo funciona.

  6. Elaborar hipóteses científicas ainda na infância.

  7. Ler enciclopédias ou manuais técnicos por curiosidade.

  8. Observar inconsistências em filmes ou livros.

  9. Fazer perguntas complexas que surpreendem adultos.

  10. Demonstrar frustração diante de explicações superficiais.

Imaginativa
  1. Inventar personagens e histórias no cotidiano.

  2. Criar jogos de faz de conta com regras complexas.

  3. Escrever contos ou poesias em cadernos pessoais.

  4. Sonhar acordado durante atividades rotineiras.

  5. Usar metáforas criativas ao se expressar.

  6. Imaginar soluções inovadoras para problemas simples.

  7. Construir brinquedos ou objetos a partir de sucata.

  8. Desenvolver linguagens secretas.

  9. Misturar fantasia e realidade em conversas.

  10. Ver novas possibilidades onde outros não percebem.

Psicomotora
  1. Falar rápido e em excesso.

  2. Agitar pernas ou mãos constantemente.

  3. Se envolver em várias atividades esportivas ao mesmo tempo.

  4. Interromper tarefas para se levantar e andar.

  5. Sentir dificuldade em permanecer sentado em sala de aula.

  6. Interromper colegas por impaciência.

  7. Gostar de competições físicas intensas.

  8. Demonstrar energia até tarde da noite.

  9. Escrever ou desenhar compulsivamente.

  10. Conversar enquanto realiza movimentos simultâneos.

Emocional
  1. Chorar facilmente diante de uma cena triste.

  2. Ter reações intensas a críticas.

  3. Sentir profunda empatia por animais em sofrimento.

  4. Demonstrar forte senso de justiça.

  5. Apegar-se intensamente a amigos ou professores.

  6. Sofrer com mudanças de rotina.

  7. Manifestar ansiedade em situações novas.

  8. Vibrar excessivamente com conquistas.

  9. Demonstrar compaixão ao presenciar injustiças.

  10. Sentir culpa de forma exagerada.

Sensorial
  1. Recusar roupas por causa da textura.

  2. Incomodar-se com barulhos de fundo.

  3. Perceber cheiros que passam despercebidos por outros.

  4. Apreciar profundamente música ou obras de arte.

  5. Sentir desconforto em lugares muito iluminados.

  6. Ser seletivo na alimentação devido a sabores fortes.

  7. Reagir mal a perfumes intensos.

  8. Buscar experiências sensoriais como massagem ou natureza.

  9. Mostrar repulsa a sons repetitivos.

  10. Encantar-se com detalhes visuais sutis.

Conclusão

As sobre-excitabilidades fazem parte da riqueza de ser superdotado. Embora tragam desafios, também representam um motor poderoso de criatividade, empatia, inteligência e energia. Quando bem compreendidas e apoiadas, podem se transformar em grandes aliadas no processo de desenvolvimento.